De fato, o isolamento social consiste em um denso processo de adaptação. Além das caminhadas do quarto ao sofá e do sofá à cozinha, existe muito tempo para se pensar e olhar para dentro de nós mesmos. Tarefa difícil, porém proveitosa, podendo provocar dentre as paredes de casa mudanças diárias que, talvez, nos acompanharão no mundo pós-pandêmico.
Você, com certeza, já escutou o tal papo sobre sustentabilidade. O ano de 2019, foi recheado de discussões pertinentes em prol da importância da preservação ambiental. Mas as ideias de sustentabilidade, obviamente, não nasceram em 2019 e nem foram deixadas por lá. Elas continuam, afinal, aquela ideia distante da sofrência humana devido ao uso irracional dos recursos naturais deixou de ser apenas o enredo de uma ficção qualquer.
Certamente construir uma sociedade sustentável não é tarefa fácil, e a transição abrupta para tal dificilmente acontecerá de um dia para o outro. No entanto, ao olharmos pela janela, ansiosos para o dia de sair para as ruas novamente, não fará mal à cabeça em repensar nossos atos dentro de casa. “Passos de formiga” são necessários em todos os processos da vida, e na sustentabilidade não é diferente.
Uma das principais mudanças cujo o cenário da quarentena proporcionou foi a migração do lixo das ruas para dentro de casa. A geração de resíduos domiciliares cresceu mais de 10% desde que o isolamento social passou a ter mais adesão e, de acordo com a ABRELPE (Associação Brasileira de empresas de limpeza pública e resíduos especiais), o crescimento tende a chegar entre 15 a 20% a mais.Naturalmente, o lixo invisível produzido nos ambientes de trabalho, nas faculdades e no caminho do dia a dia está tomando forma dentro de casa. O aumento de deliverys, segundo empresas especializadas, não atingiu somente o setor dos restaurantes e passou a funcionar para diversos fins, como farmácias, livros, entre outros itens encomendados. Simultaneamente, as casas passaram a ser entupidas de embalagens de papelão e plásticas de monte, até mesmo pelo fato de se procurar por uma proteção maior ao produto.
Ainda que, a situação por inteiro pareça um tanto quanto sufocante, a presença dessa quantia elevada de lixo dentro de nossas casas pode nos ajudar a repensar nossos hábitos consumistas. Qual o tamanho do meu lixo? Ele é realmente necessário?
No início da pandemia, houve comportamentos cômicos, embora trágicos, como o da “corrida do papel higiênico” pelos mercados, que são capazes de nos mostrar como a falta do consumo consciente pode impactar no convívio em sociedade. Obviamente, parte disso ocorreu pela falta de previsões e medidas de controle no início da quarentena, porém, não há como negar a influência do consumismo desenfreado presente nesta situação.
Pensando que, devido à suspensão das atividades da coleta muito do lixo produzido durante o isolamento poderá ser destinado aos lixões a céu aberto, ainda não totalmente extintos, embora existam leis referentes à desativação total deles, os resíduos recicláveis podem ser guardados durante um tempo dentro de casa até uma previsão de volta da coleta seletiva. Plásticos, papéis e papelões devidamente higienizados e dobrados, podem repousar um tempinho dentro de nossas casas para que não contribuam ao funcionamento indevido dos lixões, pois estes são responsáveis pela geração de 6 milhões de toneladas de gases do efeito estufa anualmente.
De fato, são tempos turbulentos que requerem de todos uma grande adaptação, mas podemos utilizá-lo a fim de redescobrir nossas funções ecossistêmicas também. De dentro de nosso aconchego, podemos procurar por produtos com menos embalagens e, para aqueles sem a confirmação de contágio com o novo vírus, a recomendação é que continue fazendo a separação dos materiais para a coleta seletiva dentro de casa. Lembrando que máscaras e luvas já usadas devem ser descartadas no lixo comum.
Com um olhar mais cuidadoso para o ambiente interior e exterior, soluções como um planejamento alimentar e de compras a serem priorizadas são maneiras eficientes de se adequar a um consumo mais consciente
Talvez, nos reeducando pouco a pouco dentro de casa, estaremos mais conscientes para quando a vez de pisar na grama novamente chegar. Como dito por Gretha Thunberg, ativista ambiental em uma entrevista para a revista New Scientist, “”a crise ambiental não vai embora” e, com certeza, não é agora que ela deve ser esquecida.
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