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Resultados da pesquisa

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Usar bitucas de cigarro para fabricar tijolos é opção econômica e ecológica

Tijolo feito com bitucas

Reciclar bitucas de cigarro pode ser uma boa opção para economizar energia e ainda resolver um problema global de lixo. Pesquisadores e indústrias trabalham em opções que podem ser vantajosas pra ambos os lados, uma delas é transformar as bitucas em tijolos.

A análise mostrou que se apenas 2,5% da produção anual global de tijolos incorporasse 1% de , isso compensaria a produção total de cigarros a cada ano. A equipe de pesquisa desenvolveu agora um plano detalhado para reunir as indústrias de fabricação de tijolos e gestão de resíduos, para implementar a reciclagem de bitucas de cigarro por meio da fabricação de tijolos em grande escala.

“Precisamos fazer muito mais para impedir que as bitucas de cigarro poluam nossas ruas, rios e oceanos, e evitar que soltem suas toxinas prejudiciais para o meio ambiente. Nosso objetivo final é um mundo livre desse tipo de poluição: nosso plano de implementação da indústria descreve as etapas práticas necessárias para tornar essa visão realidade." O plano, publicado em uma edição especial da revista Materials, mostra como bitucas de cigarro podem ser coletadas e recicladas em escala industrial.

Diferentes métodos de incorporação são descritos - usando pontas inteiras, pontas pré-trituradas ou uma pré-mistura onde as pontas já foram incorporadas a outros materiais de fabricação de tijolos. Requisitos para manter a saúde e segurança também são detalhados metodicamente, com análises mostrando como os riscos podem ser mitigados tanto para a fabricação de tijolos industriais quanto para os tijolos feitos à mão.

Economia de energia

Ao analisar o valor energético das bitucas, a equipe da Escola de Engenharia da RMIT mostrou que a incorporação de 1% de bituca de cigarro reduziria em 10% a energia necessária para queimar tijolos. “Leva até 30 horas para aquecer e queimar os tijolos, então essa é uma economia financeira significativa”, disse Mohajerani.

Pode levar muitos anos para que as pontas de cigarro se quebrem, enquanto metais pesados ​​como arsênio, cromo, níquel e cádmio presos nos filtros se infiltram no solo e nos cursos d'água. Durante a queima, no entanto, esses metais e poluentes ficam presos e imobilizados nos tijolos.

Mohajerani, que passou mais de 15 anos pesquisando métodos sustentáveis ​​para a reciclagem de bitucas de cigarro, também desenvolveu tecnologia para incorporar pontas de cigarro ao concreto asfáltico.

Ele disse que as soluções técnicas precisam ser apoiadas por leis mais rigorosas e penalidades mais severas para o lixo. “As autoridades locais também precisariam fornecer lixeiras mais especializadas para pontas de cigarro, tanto para evitar lixo quanto para permitir a coleta suave para o processo de fabricação de tijolos”, disse ele.


Fonte: Phys.org


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Primeira patente verde da UFPR, biofertilizante orgânico à base de microalgas é opção sustentável para a agricultura

Pesquisa obteve aminoácidos livres da biomassa de uma microalga de alto teor proteico e comprovou os efeitos deles no crescimento de plantas; patente está aberta a parceria com empresas


Horta

Um biofertilizante que, além de sustentável (porque é à base de microalgas produzidas em fotobiorreatores), possui características de insumo orgânico, teve o registro de patente expedido no fim de junho pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), ligado ao Ministério da Economia. Trata-se da primeira patente verde obtida por meio de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A investigação conduzida no Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Produção Vegetal (PPGAPV) da UFPR obteve aminoácidos livres da biomassa de uma microalga de alto teor proteico e comprovou os efeitos deles no crescimento de plantas.

O resultado da pesquisa foi uma fonte bioativa para a agricultura que é inovadora porque funciona não por ser uma fonte de nutriente em si, mas por estimular o processo de crescimento e desenvolvimento das plantas.

O produto não é um fertilizante clássico, pois não é essencialmente um fornecedor de nutrientes para as plantas. Para registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, se enquadraria na classe dos biofertilizantes, que são produtos caracterizados por seus efeitos bioativos, ou seja, estimulam nas plantas resposta de sinalização, e não de nutrição”, explica a pesquisadora Gilda Mógor, que faz pós-doutorado no PPGAPV e é a principal inventora da patente, que está disponível na Agência de Inovação da UFPR para parcerias com empresas.

Alfaces orgânicas

Os experimentos foram realizados no no Laboratório de Biofertilizantes e na Área de Olericultura Orgânica da Fazenda Canguiri, estação da UFPR localizada em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. As plantas usadas nos experimentos foram alfaces. “A patente está fundamentada em estudos prévios, chamados de bioensaios, em plantas modelo e seus efeitos na produção de alface orgânica. Os resultados em plantas modelo indicam potencial para uso em vários outros cultivos”, afirma a pesquisadora.

As plantas que cresceram mais depressa devido ao biofertilizantes foram alfaces cultivadas no campo, mas os ensaios apontaram que a invenção tem uso versátil. “A patente está fundamentada em estudos prévios, chamados de bioensaios, em plantas modelo e seus efeitos na produção de alface orgânica. Os resultados em plantas modelo indicam potencial para uso em vários outros cultivos”, afirma a pesquisadora.

Com isso, a pesquisa apresenta a possibilidade factível da produção comercial de um biofertilizante limpo a partir da biomassa hidrolisada da microalga Arthrospira sp., que é uma fonte de aminoácidos que pode ser cultivada em qualquer lugar do Brasil. A viabilidade de uso rápido da tecnologia pela sociedade é um dos fundamentos do Programa Patentes Verdes, disponível como serviço do instituto desde 2016, com foco na aceleração de processos que envolvem inovações com benefícios ao meio ambiente.

Viabilidade

Uma vantagem do biofertilizante, por exemplo, é a origem da biomassa. As microalgas usadas para fazer o hidrolisado protéico são as da espécie Arthrospira sp., também chamadas de Spirulina por terem formato de espiral. A Arthrospira é uma cianobactéria, grupo de bactérias de cor verde-azulada que faz fotossíntese liberando oxigênio na atmosfera. Elas se adaptam bem à vida no solo, em pântanos, em águas salobras ou doces.

Essas microalgas também podem ser cultivadas, facilitando ainda mais o acesso à matéria-prima. As cianobactérias usadas no biofertilizante, por exemplo, foram cultivadas no Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade do Setor de Ciências Agrárias da UFPR, em sistema de fotobiorreator fechado, ou seja, em escala laboratorial. Mas a produção em grande escala é possível. Um exemplo está na UFPR, onde o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia Autossutentável (NPDEAS) produz, em fotobiorreatores, várias espécies de microalgas para diversos fins, entre eles a produção de biodiesel.

Essas duas características da biomassa também estão relacionadas à sustentabilidade na produção. “Os biofertilizantes em geral são obtidos de processos fermentativos ou fracionamento, como por exemplo, extratos de macroalgas coletadas dos oceanos. Um produto obtido de microalga traz uma forte característica de sustentabilidade, pois a produção de biomassa em fotobiorreatores, como biofábricas, mitigam os efeitos da emissão de gás carbônico”, diz Gilda.

A escolha pelas microalgas ocorreu depois de uma análise de compostos naturais bioativos com potencial de biofertilizante, que foi realizada em 2013 durante um estágio do professor Atila Mógor, do PPGAPV, também inventor da patente, como professor visitante na Universidade Széchenyi István Egyetem, na Hungria, por meio do Programa Estágio Sênior, da Capes. Os bioensaios foram realizados no Laboratório de Biofertilizantes da UFPR e serviram de fundamento para o trabalho que deu origem à patente verde.

Agricultura orgânica

O laboratório, que fica em espaço anexo à Área Experimental de Olericultura Orgânica, na Fazenda Canguiri, reúne uma série de pesquisas que buscam alternativas naturais para a promoção do crescimento vegetal, conforme os preceitos da produção orgânica. A linha abrange diversas pesquisas para incremento de agricultura orgânica, da iniciação científica ao stricto sensu (mestrado e doutorado), por meio de investigações de diferentes fontes de biofertilizantes, como na produção de mudas e cultivos orgânicos de tomate, batata e cebola, por exemplo.

Atualmente a pesquisadora realiza outro pós-doutorado no programa, dessa vez estudando o efeito de fonte biofertilizante sobre a cana-de-açúcar. Nos últimos anos, pesquisas da UFPR desenvolvidas em outros laboratórios contribuíram para o desenvolvimento das cultivares (forma de planta selecionada) mais utilizadas no cultivo de cana no Brasil. Agora, as pesquisas do Laboratório de Biofertilizantes permitirão avançar no desenvolvimento de insumos orgânicos também para essa cultura.



terça-feira, 8 de setembro de 2020

Comercialização e consumo de hortaliças durante a pandemia do coronavírus

Sistema FAEG/Senar -

As hortaliças, sem dúvida, são importantes fontes de vitaminas, sais minerais, fibras e antioxidantes. Apesar das recomendações dos órgãos nacionais e internacionais, como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), respectivamente, o consumo de hortaliças em nosso país permanece bem abaixo dos valores diários preconizados por essas instituições. Isso pode estar associado a vários aspectos, dentre eles os econômicos (poder de compra), sociais (facilidade de acesso) e culturais (costume, região etc.). Em relação aos aspectos econômicos, observa-se geralmente que, com a melhoria na renda da população no país, a tendência é que o consumo de hortaliças também aumente.

O mercado brasileiro de hortaliças é altamente diversificado e segmentado, com dezenas de olerícolas sendo comercializadas e consumidas nas diferentes regiões do país, embora o volume da produção tenha se concentrado em poucas espécies, como alface, batata, cebola, cenoura, melancia e tomate. A produção de grande parte do volume comercializado das hortaliças no Brasil é realizada por pequenos agricultores, geralmente denominados como “familiares”.

A comercialização desses produtos é feita em diferentes canais, como as centrais de distribuição (CDs) das grandes redes de supermercados, mercados menores, sacolões, feiras livres, restaurantes e/ou nas centrais de abastecimento (Ceasa, Ceagesp). O setor varejista tem se mostrado como um dos principais canais de distribuição de hortaliças, sendo que os supermercados constituem o principal canal nas áreas metropolitanas. Nesta crise causada pelo novo coronavírus, observou-se um aumento expressivo na procura por hortaliças nos supermercados, já que os consumidores buscam também, nas suas idas em menores frequências às compras, outros produtos de alimentação e higiene.

Outra parte da comercialização das hortaliças é por meio das compras públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), geralmente privilegiando os agricultores familiares. Com a crise causada pela pandemia, essas formas de comercialização foram afetadas. As compras pelo PAA, em muitos casos, foram reduzidas nesse período, entretanto, já havia sido observada a redução, nos últimos anos, dos investimentos totais nessa política pública. Aqueles que comercializam pelo PNAE têm enfrentado dificuldades de comercialização, uma vez que as escolas foram fechadas, ainda que várias prefeituras tenham direcionado parte das entregas para hospitais, asilos e creches. Também se pode verificar algumas ações de órgãos governamentais para auxílio a esses produtores, minimizando assim, os efeitos negativos da pandemia no setor. Uma delas foi a Lei 13.987/2020, que autoriza a distribuição de alimentos adquiridos pelo PNAE às famílias dos estudantes da rede pública durante o período de suspensão das aulas. Muitas das crianças de famílias mais pobres têm acesso às hortaliças principalmente nas escolas, e com o cancelamento das aulas, certamente o consumo de hortaliças por essas crianças foi drasticamente reduzido. Vale salientar que em suas residências, as hortaliças raramente fazem parte da dieta alimentar dessas famílias carentes.      

Para aqueles produtores e/ou intermediários que atuavam no fornecimento para as feiras livres, os prejuízos foram consideráveis, uma vez que alguns estados suspenderam o funcionamento das feiras, ainda que temporariamente, neste período de pandemia. Produtores de hortaliças folhosas, notadamente a alface, por ser um produto mais perecível, foram muito prejudicados, já que a comercialização diminuiu principalmente nas feiras livres, onde esse produto é um dos mais comercializados.

Sabe-se que o funcionamento das feiras livres contribui significativamente para a receita de pequenos e médios produtores, principalmente aqueles que têm nas mesmas o principal canal de comercialização. Para esses e demais produtores, a busca por novas formas de alternativas de comercialização como a entrega de produtos utilizando delivery, drive-thru ou take-out foi a solução encontrada para escoar parte da produção. Assim, a feira como tradicional “ponto de encontro”, passa a ser flexibilizada, com locais e horários para a distribuição dos produtos são previamente acordados entre vendedores e consumidores.

A utilização de mídias digitais, por meio do celular, com o emprego principalmente do WhatsApp e, em menor escala o Instagram e o Facebook, tem sido, sem dúvida, uma grande aliada desses produtores, mantendo assim, um “acordo de negócio” nesses pequenos circuitos, ou mesmo articulando essa aproximação entre os produtores e os consumidores, facilitando assim o fluxo de produtos. Outras medidas de apoio à comercialização das hortaliças também foram implementadas, a exemplo da “Feira Segura”, um projeto do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/CNA) para estimular a realização de feiras livres em todo o país, seguindo as orientações da OMS quanto aos cuidados em relação ao novo coronavírus.

A entrega de hortaliças mais frescas e de origem conhecida, assim como uma oportunidade de uma maior aproximação entre produtores e grupos (associações ou cooperativas) com os consumidores, também foram algumas características observadas durante esta crise em algumas regiões do país. O apelo por parte de consumidores mais esclarecidos para aquisição de produtos oriundos da agricultura familiar e/ou de produtores locais também foi evidenciado durante a pandemia.

A crise causada pelo novo coronavírus tem impulsionado, em algumas regiões, o consumo de produtos sem agrotóxicos, principalmente para aquelas pessoas de maior poder aquisitivo. Assim, acredita-se que esta crise possa abrir de novo a discussão em torno da importância de um consumo e de uma agricultura mais sustentáveis. A comercialização de produtos orgânicos pode apresentar uma pequena vantagem em relação aos produtos convencionais, uma vez que está organizada com um grupo de consumidores, não necessariamente em relação à renda, e tende a uma maior aproximação nessas redes já consolidadas e estruturadas, que remetem a um apelo para um produto com “qualidade superior”, além do maior zelo, melhor manipulação etc., ou seja, um maior carinho na relação com o consumidor. Esses produtores orgânicos, geralmente pequenos, comercializam seus produtos em feiras, quiosques etc., e nesse sentido, após o fechamento desses locais, houve, sem dúvida, uma perda na comercialização. Com o aumento da atividade do delivery por parte desses pequenos produtores, as vendas voltam a se normalizar. Um outro mercado que deverá crescer é aquele de produtos higienizados e processados, no qual a preocupação com a segurança do alimento é cada vez mais ressaltada. Produtos acondicionados em embalagens adequadas, em substituição aos produtos a granel expostos nas gôndolas dos mercados, devem ser priorizados para um público de maior poder aquisitivo.

Aqueles produtores que têm parte de sua produção direcionada a restaurantes e lanchonetes também viram suas vendas caírem vertiginosamente, mesmo que em alguns desses estabelecimentos houvessem a opção de delivery para os seus pratos. Os restaurantes do tipo self-service proporcionam, para a maioria da população, uma refeição mais barata, sendo que os consumidores têm, nesse tipo de refeição, a oportunidade de um maior acesso à diversidade de hortaliças.

No início da pandemia, após o fechamento destes estabelecimentos, assim como o menor movimento observado nas Centrais de Abastecimento e CDs, houve uma forte retração nas vendas, com algumas sobras de produtos; parte das hortaliças foi perdida nas propriedades e na comercialização, e parte doada à Banco de Alimentos e outras instituições filantrópicas, sendo que a partir daí os produtores tentaram se adequar na sua produção. Também, uma maior evidência para produtores de hortaliças “especiais” direcionados para restaurantes gourmet e/ou de alta gastronomia, como brotos, baby-leaf, cogumelos comestíveis etc., cujas vendas foram consideravelmente reduzidas. Outros fornecedores de hortaliças, como alface, cebola, pepino (picles) e tomate, que entram na preparação de saladas ou sanduíches em restaurantes do tipo fast-food tiveram suas entregas reduzidas, o mesmo acontecendo com a batata pré-frita congelada, produto importado em grandes quantidades pelo país, assim como outros que o Brasil recorre anualmente às importações, como alho, cebola e ervilha, apresentaram, neste período inicial de pandemia, problemas na distribuição e comercialização, conforme artigo recentemente publicado pela Embrapa Hortaliças.

Com as pessoas cozinhando por mais vezes em casa, neste período de isolamento social, é possível que a versatilidade de hortaliças no prato diário tenha sido bem menor que aquela obtida fora de casa. Mesmo assim, para atender à demanda das pessoas em casa, observa-se um aumento expressivo de vendas das hortaliças nas redes de supermercados. Nesses locais, produtos de melhor qualidade, com melhor classificação e sem defeitos aparentes, são exigidos rotineiramente e, assim, aqueles produtores que fornecem hortaliças de qualidade inferior (sem classificação, com defeitos etc.), não conseguiram comercializar seus produtos por esta via. Tais produtores certamente foram os mais prejudicados, uma vez que geralmente forneciam para outros clientes, como restaurantes, feiras etc., e encontraram dificuldades nas entregas já que esses locais foram fechados.

A produção de hortaliças e, consequentemente, o preço dos produtos geralmente sofrem com as condições climáticas adversas. O país está saindo de um período quente e chuvoso, com os prejuízos normais às lavouras em razão da maior precipitação, reduzindo a sua produtividade e a qualidade do produto obtido. Preços mais altos nas hortaliças geralmente ocorrem após a época de verão. Soma-se a isso, os problemas na logística das mercadorias que são produzidas em diferentes polos em várias regiões do país, os quais ficaram mais evidentes nesta época, uma vez que foram implementadas, em alguns locais, barreiras nas estradas, além da precariedade de serviços de restaurantes e apoio nas rodovias. Outro fator para o aumento dos preços de hortaliças foi a redução e ou mesmo a ausência de retorno do frete-recomércio, o que refletiu no aumento do custo do transporte. Assim, a crise do novo coronavírus impactou o preço da maioria das hortaliças, e os consumidores descapitalizados têm priorizado a compra de outros produtos alimentícios, deixando de adquirir as hortaliças. 

Independente da crise causada pelo novo coronavírus, observa-se nos últimos anos que o mercado de hortaliças tem sofrido grandes mudanças, nas quais o consumidor, principalmente aquele de maior poder aquisitivo, tem buscado mais conveniência na aquisição e no preparo de hortaliças. Por exemplo, produtos minimamente processados como o mix de hortaliças higienizadas e embaladas, prontas para consumo imediato; hortaliças de tamanho reduzido, como as mini melancias sem sementes, os mini tomates ou as mini cenouras (demandas de famílias com menor número de pessoas e/ou uma maior conveniência, como snacks etc.); hortaliças padronizadas e acondicionadas em embalagens; produtos com marcas contendo informações nutricionais e/ou receitas para preparo; produtos orgânicos, etc. Vale salientar que as hortaliças embaladas, na maioria das vezes, garantem uma maior qualidade no momento da compra e evitam desperdícios, já que o consumidor manuseia menos os produtos.

Dentre as tendências e/ou mudanças observadas nos últimos anos, e agora fortalecida com esta crise do novo coronavírus, está a compra online de hortaliças e delivery. A utilização das redes sociais, como descrito anteriormente, também será uma importante ferramenta para comercialização, inclusive para produtores e fornecedores terem o feedback instantâneo das reações dos consumidores em relação às hortaliças adquiridas. Cuidados com a origem e a sanidade das hortaliças também receberão uma maior importância por parte dos consumidores mais informados, e a rastreabilidade e a segurança do alimento aparecerão, cada vez mais, como uma exigência por parte dos consumidores em relação à origem e boas práticas agrícolas na produção, garantindo no final da cadeia produtos de melhor qualidade para o consumo. Um recente artigo da Dra. Lucimeire Pilon, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, sugere que algumas recomendações para o enfrentamento da Covid-19 devem fazer parte de um roteiro seguro a ser seguido em todos os elos da cadeia produtiva de hortaliças, que implicam diretamente nas atividades de campo, no transporte, nos CDs, e demais etapas até chegar na mesa do consumidor. No entanto, é sabido que a realidade dos agentes das cadeias produtivas é bastante heterogênea em função de diversos fatores, como porte econômico, nível tecnológico e capacidade de gestão, o que reflete nas práticas adotadas e, consequentemente, na qualidade e na segurança da hortaliça entregue ao consumidor.

A pandemia causada pelo novo coronavírus influenciou fortemente o mercado de hortaliças em diferentes regiões do país, uma vez que as restrições decorrentes desta crise afetaram tanto a distribuição quanto a comercialização dos produtos olerícolas. A menor circulação das pessoas nas ruas também influenciou negativamente a venda e, consequentemente, o consumo das hortaliças neste período. Verifica-se ainda que algumas famílias têm preferido a aquisição de alimentos industrializados, uma vez que apresentam maior durabilidade. A sociedade tem sido submetida a várias mudanças no seu cotidiano, as quais poderão trazer implicações, inclusive, em seus hábitos alimentares. Já se observa, por exemplo, em certos grupos, um maior interesse pelos alimentos mais saudáveis (frutas e hortaliças), com objetivo de “fortalecer” a imunidade, um aspecto importante nestes tempos.

Por outro lado, a pesquisadora Maria Thereza Pedroso, da Embrapa Hortaliças, menciona em artigo recente, que os diferentes agentes econômicos das cadeias que produzem hortaliças, em face dos crescentes prejuízos em suas atividades causadas pela crise do novo coronavírus, poderão ser forçados a reduzir drasticamente os investimentos e, até mesmo, paralisar as suas atividades, diminuindo a oferta de hortaliças, e sob um cenário mais pessimista, poderá ocorrer o desabastecimento de diversas mercadorias do setor nos próximos meses. Finalmente, a retomada repentina à vida normal pode ser bastante crítica no sentido de um possível desabastecimento de algumas hortaliças, assim como a incerteza de um “abre e fecha” do comércio, talvez o pior cenário para os diferentes elos das cadeias produtivas de hortaliças.

Warley Marcos Nascimento
Pesquisador e Chefe-Geral da Embrapa Hortaliças



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Os Benefícios de plantar o próprio alimento

      Seja cultivando tomates, feijão vagem, pepinos, chuchu, frutos, repolho, couve-flor, alface, chicória, rúcula ou outras hortaliças em geral, uma coisa é fato: o cultivo orgânico e caseiro não para de crescer.

      É cada vez mais comum encontramos pessoas dispostas a produzirem seus próprios alimentos.

      Mas por que isso tem acontecido?

      Os benefícios são inúmeros mas não há como negar que o principal deles é o fato de alimentos orgânicos despertarem o interesse das pessoas. E não é pra menos.

      O produto orgânico é um alimento sadio, limpo, cultivado sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos. São cultivados através de processos naturais, que não agridem a natureza e não fazem mal a saúde.

      O alimento orgânico é completamente diferente do produto da agricultura convencional, que utiliza excessivas doses de inseticidas, fungicidas, herbicidas e adubos químicos.

      Esses produtos podem resultar em muitas doenças que afetam o homem, além de diminuírem drasticamente o valor nutricional do alimento. Também contaminam o ambiente, poluindo a água, o ar, a terra, a flora e a fauna. Totalmente o oposto do modo orgânico de cultivar as espécies. A agricultura orgânica é um modo respeitoso e saudável de produzir alimentos e preservar o meio ambiente.

      O sabor dos alimentos cultivados de maneira orgânica são melhores e os alimentos são mais saudáveis e livres de organismos geneticamente modificados.

      Como se estes pontos já não fossem bons o suficiente para nos fazer acreditar que o cultivo orgânico é sem dúvida especial e importante, há ainda outros benefícios.

      Quem não gosta de alimentos frescos? Nada mais agradável que poder colher em casa os temperos e hortaliças que trarão perfume, beleza, cor e sabor aos nossos pratos culinários.

      No entanto, se você pensa que é necessário um grande quintal ou muito espaço para realizar o cultivo, saiba que não. Você pode cultivar hortaliças em vasos ou floreiras. Se antes a famosa frase “Não dá, pouco espaço!” era muito usada como forma de desculpa para não ter um jardim ou horta em sua casa ou apartamento, as coisas mudaram. Hoje, as hortas verticais podem ter formatos variados e abrigar diferentes espécies. Até mesmo nas varandas de apartamentos. Cozinha, varanda, sala de estar, quintal ou até mesmo área de serviço. Qualquer lugar é lugar para uma horta vertical. O mais importante é ter uma boa dose de luz diária e escolher as plantas adequadas para o ambiente.

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      Cultivar é também uma terapia e traz benefícios notáveis a saúde. Há estudos que avaliam a mudança de comportamento e a melhoria na qualidade de vida de pessoas que cultivam algo e tem algum tipo de contato direto com a natureza. Cultivar é uma atividade relaxante que pode melhorar seu humor e também sua saúde.

      A economia é definitivamente um dos fatores que também influenciam no incentivo do cultivo em casa. Imagine quanto não irá economizar com sacolão/feira produzindo seu próprio alimento? Uma saída viável e totalmente eficiente para lhe ajudar a guardar um dinheirinho que poderá ser investido em outros projetos. Há uma famosa frase que diz: “Quem planta sua comida, imprimi seu próprio dinheiro” e ela é totalmente coerente e realista.

      É possível plantar os cultivares que deseja em vasos, vasilhames, jardineiras, canos de PVC e até garrafas PET. Sendo assim, não há desculpa para não praticar o cultivo.

      Atualmente existem inúmeros acessórios que auxiliam até mesmo os leigos no assunto. Vasos autoirrigáveisadubos orgânicos prontos, mangueiras de irrigação… São vários os itens que ajudam na prática do cultivo.

      Então com tantos benefícios por que não ser uma destas pessoas que levam uma vida mais saudável e econômica?

      

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Energias renováveis e seus benefícios


energias renovaveis

Energias renováveisenergias alternativas ou energias limpas são três nomes possíveis para qualquer energia obtida por meio de fontes renováveis, que não geram grandes impactos ambientais negativos. Consumir energia 100% limpa é o jeito mais eficiente de compensar as emissões de CO2. A fonte de energia mais usada ainda é o carvão, com o consumo mundial de mais de 28% contra quase 13% de energias renováveis, como hidrelétrica, solar e eólica.

O Brasil possui uma matriz energética predominantemente renovável devido às hidrelétricas, apesar do crescimento do uso de termelétricas abastecidas por combustíveis fósseis. No Brasil, o setor energético corresponde a 30% das emissões de CO2, ficando atrás, por uma pequena porcentagem, apenas da mudança no uso do solo e da agricultura, que têm as maiores contribuições para o aquecimento global.

Os investimentos e tecnologias em energia renovável estão crescendo cada vez mais. Cerca de 90% das novas energias geradas no ano de 2015, por exemplo, vêm de fontes renováveis. Aquele foi o ano da energia renovável; o investimento foi de US$ 286 bilhões principalmente em energia solarbiocombustíveis e eólica. O uso de energias limpas evitou o lançamento de 1,5 gigatonelada (Gt) de CO2 em 2014; mesmo assim, 32,3 Gt de CO2 foram gerados pelos combustíveis fósseis (carvão, óleo e gás natural) no mesmo ano.

Empresas que produzem energia limpa, como projetos de aproveitamento do biogás em aterros, projetos de energias eólica, solar, biomassa, entre outras, podem vender sua produção pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), na forma de créditos de carbono, pela quantidade correspondente às emissões evitadas. Para realizar a neutralização de carbono, o responsável pode comprar esses créditos de carbono proveniente de energias renováveis.

Principais tipos de energias renováves

Biomassa

Biomassa é toda matéria orgânica, derivada de plantas ou de animais, disponível de forma renovável. Ela pode ser oriunda de restos de madeira, de sobras agrícolas, de resíduos urbanos orgânicos, de esterco… E a bioenergia é a energia derivada da conversão da biomassa em combustível. A energia proveniente da biomassa corresponde aos biocombustíveis etanolbiodiesel, biogás. O Brasil também é um dos maiores produtores de etanol e o uso do bagaço da cana-de-açúcar para as usinas termelétricas também está crescendo. Em comparação com a gasolina, o biocombustível (etanol) emite até 82% menos dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. A biomassa pode ser uma das grandes fontes de energias renováveis se for cultivada de maneira sustentável, ou pode ser uma grande destruidora se manejada de forma incorreta.

Energia geotérmica

É a utilização da energia térmica do interior da Terra. Essa fonte de energia renovável pode ser usada diretamente (sem a produção de energia em usinas, utilizando apenas o calor gerado pelo solo) ou indiretamente (quando o calor é encaminhado para uma indústria que o transforma em energia elétrica). O crescimento por ano é de 3%, mas é viável somente em regiões com potencial geológico para isso (em especial aquelas próximas a vulcões). Dependendo da técnica utilizada, esse tipo de energia também pode emitir diretamente sulfeto de hidrogênio, dióxido de carbono, amônia, metano e boro, que são substâncias tóxicas.

Hidrelétrica

O Brasil é o segundo país do mundo com maior capacidade e geração de energia hidráulica, atrás apenas da China. As hidrelétricas usam uma elevação para aumentar a força da água e girar as turbinas para produzir energia elétrica. Apesar de ser considerada uma fonte de energia limpa devido à sua baixa emissão de gases de efeito estufa (GEEs), as grandes hidrelétricas causam significativos impactos ao meio ambiente; a solução seria investir em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) que possuem menor impacto. Saiba mais na matéria: "O que é energia hidrelétrica?".

Energia dos oceanos

Esse tipo de energia renovável pode ser proveniente principalmente de marés (maremotriz) ou das ondas (ondomotriz). A fonte energética ainda é pouco utilizada, pois para ser eficiente e economicamente viável, a costa precisa ter características específicas, como marés maiores que três metros. O preço do kW é alto, tornando esse tipo de energia não atrativa comparada como outras fontes.

Energia solar

energia proveniente do sol é a energia renovável mais promissora para o futuro e a que recebe mais investimentos. A radiação solar pode ser capturada por placas fotovoltaicas e ser convertida em energia térmica ou elétrica. Quando painéis estão localizado em construções, como casas ou indústrias, os impactos ambientais são mínimos. Esse tipo de energia é uma das mais fáceis de ser implantada nos próprios estabelecimentos que querem a reduzir das suas emissões de CO2. Painéis podem ser adquiridos por pessoas físicas e empresas e instalados nos telhados de seus estabelecimentos, por exemplo. Saiba mais sobre essa fonte de energia renovável: "Energia solar: o que é, vantagens e desvantagens".

Energia eólica

O Brasil tem um grande potencial eólico, por isso nós ingressamos no ranking dos dez países mais atraentes do mundo para investimentos no setor. A emissão de CO2 dessa fonte de energia alternativa é mais baixa que a da energia solar e é uma opção para o país não depender somente das hidrelétricas. Os investimentos em parques eólicos são uma ótima opção para neutralização de carbono emitidos por empresas, atividades, processos, eventos, etc. Saiba mais: "O que é energia eólica?".

Energia nuclear

energia nuclear não é considerada uma energia renovável, e sim uma energia alternativa de baixa emissão de carbono. Entre as energias apresentadas aqui, a nuclear é a que menos emite CO2, entretanto existem muitas desvantagens do seu uso. A possibilidade de utilização levanta um debate global sobre as prioridades de cada país. Por exemplo, os Estados Unidos deixaram de emitir 64 bilhões de gases de efeito estufa com o uso de energia nuclear, mas corre riscos, como quando ocorrem vazamentos e contaminações - casos famosos se deram em Chernobyl, na Ucrânia, e em Fukushima, no Japão. Os riscos e impactos desse tipo de acidente são imensos. Sem contar que, mesmo que não haja qualquer problema, os resíduos nucleares têm disposição muito difícil.

Analisando o ciclo de vida da energia renovável, incluindo manufatura, instalação, operação e manutenção, fica claro como a quantidade de CO2 emitido pelas diversas fontes é mínima comparada a fontes tradicionais. Um relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) mostra a quantidade de CO2 emitida pelas principais fontes de energia:

  • Carvão - 635 a 1.633 gramas de CO2 equivalente por quilowatt-hora de geração (gCO2eq/kWh)
  • Gás Natural - 272 a 907 gCO2eq/kWh
  • Hidrelétrica - 45 a 227 gCO2eq/kWh
  • Energia geotérmica - 45 a 90 gCO2eq/kWh
  • Energia solar - 32 a 90 gCO2eq/kWh
  • Energia eólica - 9 a 18 gCO2eq/kWh
  • Energia nuclear - 13,56 gCO2eq/kWh

A palavra chave para a neutralização é adaptação. Empresas podem investir em energia limpa de projetos certificados, garantindo a qualidade e a procedência na hora da compra, protegendo o consumidor. No Brasil, o caso da energia não é tão problemático, já que nossa matriz é principalmente proveniente de hidrelétricas, considerada uma energia renovável, apesar das controvérsias. Mas vale lembrar que existem energias capazes de diminuir ainda mais as emissões, pois produzem menos CO2 que as hidrelétricas, como a solar e eólica!

Podem reduzir milhões de dólares com gastos na saúde

Energias renováveis como aqueles provenientes de usinas eólicas e solares ajudam a reduzir o impacto humano nas mudanças climáticas, principalmente no aquecimento global, ao evitar emissões nocivas oriundas de usinas termelétricas movidas a carvão, por exemplo. Um estudo publicado pela Nature Climate Change, indica que fontes renováveis também poupam muitos gastos com saúde que seriam ocasionados por doenças provocadas pela poluição.

Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estimaram que medidas de eficiência energética e fontes de energia de baixo carbono podem economizar de US$ 5,7 milhões a US$ 210 milhões dependendo da região (o estudo foi feito em seis regiões do Meio-Atlântico e dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos). Esses benefícios dependem dos tipos de energia de baixo carbono envolvidas e da densidade da população da área ao redor da usina de carvão (que seria substituída por outras fontes menos danosas).

Fontes de energias renováveis e medidas de eficiência energética (que evitam desperdício de energia), além de reduzirem emissões de dióxido de carbono (CO2) que agravam mudanças climáticas, reduzem poluentes do ar como óxido nitroso (N2O) e dióxido de enxofre (SO2), que podem ser muito danosos (veja mais sobre alguns deles: "Poluição: o que é e quais os tipos existentes").

Produção contínua

Uma medida inovadora da pesquisa foi tentar "precificar" os prejuízos, dando uma medida concreta para análise. Usando alguns diferentes modelos para estimar as consequências das emissões de uma usina de energia para a saúde pública, o estudo mostra que construir captadores eólicos e implementar medidas de eficiência energética são as ações que produzem os maiores benefícios à saúde. Isso ocorre porque as usinas eólicas costumam operar em horários e épocas que não são os de pico de consumo, como de noite e durante primavera e outono - sendo capazes de evitar a emissão de grandes proporções de poluentes, segundo o líder do estudo, Jonathan Buonocore.

Em países como os Estados Unidos, em que há muitas termelétricas a carvão, há um problema: quando há demanda por energia em horários que não são os de pico, apenas as usinas termelétricas estão funcionando e, consequentemente, poluindo. Usinas que utilizam fontes de baixo carbono, como solar e a gás natural, não funcionam à noite.

Quando os consumidores estão usando muita eletricidade, como no meio de um dia quente de verão, as fontes de baixo carbono operam, mas à noite a maioria é de termelétricas. Por isso é que é importante, segundo o estudo, focar em usinas eólicas e em um mondo de armazenar e transmitir de forma eficiente a energia gerada por esse meio sustentável.

Os impactos totais à saúde aumentam à medida em que mais pessoas são expostas à poluição do ar; assim, os benefícios são ainda maiores em locais com uma grande população, segundo Buonocore.

O estudo desvendou que usinas eólicas construídas nas proximidades de Cincinnati e Chicago produziram U$ 210 milhões anuais em benefícios à saúde; em Nova Jérsei, uma região com menor densidade populacional, os benefícios foram da ordem de U$ 110 milhões.

O diretor do Laboratório de de Energias Renováveis da Universidade de Califórnia-Berkeley, Daniel Kammen que não é ligado ao estudo, teceu elogios à publicação, mas acredita que ela não enfoca as desigualdades ambientais do sistema. O estudo assume que todos os estadunidenses são iguais, mas Kammen afirma que algumas pessoas são mais vulneráveis que outras, especialmente as comunidades que estão localizadas nas proximidades das usinas.


segunda-feira, 27 de julho de 2020

A importância da Agricuktura regenerativa


Agricultura regenerativa

O termo “agricultura regenerativa” foi cunhado pelo americano Robert Rodale, que utilizou teorias de hierarquia ecológica para estudar os processos de regeneração nos sistemas agrícolas ao longo do tempo. É um conceito ligado à possibilidade de produzir recuperando os solos. Sua proposta visa a regeneração e manutenção de todo o sistema de produção alimentar, incluindo as comunidades rurais e os consumidores. Essa regeneração da agricultura deve levar em conta, além dos aspectos econômicos, as questões ecológicas, éticas e de igualdade social.

As práticas agrícolas convencionais – cultivo de culturas e gado, bem como o desmatamento – são responsáveis por um quarto estimado das emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental (EPA). Os efeitos da agricultura industrial são bastante visíveis, desde a zona morta no Golfo do México até incêndios florestais na Amazônia.

Embora a agricultura orgânica tenha tido um impacto positivo no planeta, é possível fazer ainda mais para reduzir a pegada de carbono global adotando a agricultura regenerativa.

A história do movimento da agricultura regenerativa

A agricultura orgânica originou as bases para o movimento de agricultura regenerativa americana. A agricultura orgânica, um termo que surgiu na década de 1940, é comumente concedida a J.I. Rodale do Instituto Rodale. Práticas de agricultura orgânica também são usadas na agricultura regenerativa, incluindo o uso reduzido de pesticidas, herbicidas e fertilizantes.

À medida que o movimento orgânico crescia na década de 1970, os agricultores começaram a dedicar uma área cultivada às culturas orgânicas. Quando eles viram benefícios econômicos pelo menor uso de produtos químicos e, ao mesmo tempo, mantendo rendimentos semelhantes à agricultura convencional, implementaram algumas práticas adicionais.

Na década de 1980, os produtores de milho e soja do Centro-Oeste dos Estados Unidos enfrentaram uma crise agrícola devido ao declínio no desempenho do solo. Para enfrentá-la, esses agricultores reduziram o arar do solo e usaram culturas de cobertura para tentar reabilitar a terra. Na mesma época, produtores convencionais passaram a produzir orgânicos, incrementando o volume de produtos.

Nesse contexto, Robert, filho de J.I. Rodale, decidiu dar um passo à frente na agricultura orgânica, cunhando o termo “orgânico regenerativo”. Essa abordagem holística da agricultura baseia-se nos princípios da agricultura orgânica combinados com práticas de saúde do solo e gestão da terra que imitam a natureza. As principais práticas da agricultura regenerativa são:

  • Rotação de culturas ou cultivo sucessivo de mais de uma planta na mesma terra;
  • Cobrir o cultivo ou o plantio o ano todo, para que a terra não fique em pousio durante as entressafras, o que ajuda a evitar a erosão do solo;
  • Cultivo conservador, ou menos aração de campos;
  • Pastagem de gado, que estimula naturalmente o crescimento das plantas;
  • Diminuição do uso de fertilizantes e pesticidas;
  • Nenhum (ou limitado) uso de Organismos Geneticamente Modificados para promover a biodiversidade;
  • Bem-estar animal e práticas justas de trabalho para os produtores.

Benefícios da agricultura regenerativa para o meio ambiente

O cuidado com o solo é um aspecto importante da agricultura regenerativa. Graças à suas práticas, é possível recuperar solos empobrecidos e garantir o bom uso deles. Nesse contexto, a agricultura regenerativa valoriza os micro-organismos presentes no solo, já que eles são fundamentais para a manutenção da terra. Por isso, um dos mecanismos desse tipo de agricultura é o desenvolvimento e a utilização de biofertilizantes preparados com materiais naturais, que são posteriormente disponibilizados para o agricultor. Esses biofertilizantes enriquecem o solo e beneficiam a cultura com micro-organismos

Os micro-organismos são responsáveis por promover um ciclo de simbiose e disponibilizar os nutrientes que já estão no solo para as plantas. Além disso, dentro do contexto da agricultura regenerativa, os biofertilizantes são produzidos de maneira sustentável.

No caso da regeneração de um solo empobrecido, os procedimentos possuem o objetivo de disponibilizar água, alimento e ar, podendo torná-lo apto para o plantio. Em solos agrícolas erodidos, por sua vez, é preciso recolocar o seu teor em nutrientes, que vão auxiliar o seu processo de regeneração.

Segundo pesquisadores, a agricultura regenerativa pode ajudar a reverter as mudanças climáticas. Algumas práticas, como arar o solo para o plantio, resultam na emissão do carbono armazenado por raízes antigas que se encontram na terra. Na atmosfera, esse elemento se combina com o oxigênio para formar dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito estufa. Liberar esse carbono também prejudica a saúde do solo, uma vez que dificulta o crescimento de novos vegetais.

Manter uma raiz viva no solo o tempo todo, como prevê a agricultura regenerativa, ajuda a fazer o ciclo de nutrientes sem retirar o carbono armazenado. Enquanto isso, o uso de compostos orgânicos aumenta a variedade de micro-organismos presentes na terra, que alimentam as plantas e ajudam a gerenciar pragas. O plantio cruzado, isto é, de mais de uma espécie no mesmo espaço, também é uma técnica importante na agricultura regenerativa.

Essas práticas agrícolas podem ajudar a restaurar o equilíbrio natural de solos saudáveis. De acordo com um relatório do Instituto Rodale, mudar para a agricultura regenerativa pode ajudar a absorver 100% do dióxido de carbono emitido na atmosfera.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

Sistemas agroflorestais na produção de orgânicos

Sistemas agroflorestais

O termo “agrofloresta” foi criado para designar um uso especial da terra que envolve o manejo intencional de árvores. Através da introdução e mistura de árvores ou arbustos nos campos de produção agrícola ou pecuária, obtêm-se benefícios a partir das interações ecológicas e econômicas que acontecem nesse processo.

Existem muitas variações nas práticas que caem na categoria de agrofloresta. Na agrossilvicultura, as árvores são combinadas com culturas agrícolas; em sistemas silvipastoris, elas são combinadas com produção animal e em sistemas agrossilvipastoris o produtor maneja uma mescla de árvores, culturas e animais. Vale ressaltar que a incorporação de árvores em sistemas de produção de alimentos é uma prática com longa história.

Vantagens do sistemas agroflorestais em comparação às monoculturas

Diferente da monocultura, os sistemas agroflorestais possuem composição variada, com cerca de dez a vinte espécies, resultando em diversas colheitas ao longo do ano. Além de possuir benefícios econômicos que permitem que o agricultor diversifique sua produção, esse sistema também gera benefícios sociais, uma vez que ajuda a fixar os trabalhadores no campo. Além disso, os sistemas agroflorestais também apresentam diversas vantagens para o meio ambiente, tais como:

  • Aumento da biodiversidade;
  • Diminuição da erosão;
  • Conservação das nascentes;
  • Aumento da biomassa;
  • Redução da acidez;
  • Preservação da fertilidade e produtividade do solo.

Com tantas vantagens, os sistemas agroflorestais são considerados uma boa alternativa para a utilização racional dos recursos naturais renováveis, minimizando os impactos negativos da agricultura sobre o meio ambiente, ao mesmo tempo em que representam uma solução com resultados socioeconômicos positivos.

Sistema de agroflorestas na produção de orgânicos

A produção de alimentos orgânicos em sistemas agroflorestais vêm ganhando destaque entre produtores rurais e pode ser mais vantajosa em longo prazo. Segundo o extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Rafael Lima de Medeiros, a agrofloresta é um ambiente mais equilibrado do ponto de vista biológico e também um sistema mais vantajoso para o agricultor que sempre vai ter lucro com alguma colheita da área.

Para produzir alimentos orgânicos não é permitido ao agricultor o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e transgênicos na lavoura, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E mais que isso, o processo de produção deve respeitar as relações sociais e culturais e seguir os princípios agroecológicos, com o uso sustentável dos recursos naturais.

A produtora rural Silvia Pinheiro dos Santos adotou esse sistema em sua propriedade de 21 hectares no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, na região de Brazlândia, no Distrito Federal. As verduras, frutas e madeiras de lei estão plantadas juntas, em consórcio, e, segundo Silvia, a biodiversidade é tão grande que evita muitas pragas e dá mais saúde para os vegetais. No terreno crescem, entre outras plantas, a hortelã, que afasta os insetos, e o feijão-guandú, capaz de fixar o nitrogênio no solo.

“Horta é a atividade que menos dá dinheiro, a que dá mais é a fruta e o mais rentável é a madeira. Então a ideia é aposentar com aquilo ali”, diz Silvia, apontando para as árvores. “Conforme a madeira vai crescendo vamos escolhendo o que vai ficando. As hortaliças são de imediato e é o que nós comemos”, completou.

Evolução do orgânico

Silvia conta que a propriedade está há mais de 40 anos na família e que até dez anos atrás a área era toda de pasto para o gado. “Hoje temos gado, ovelha e agrofloresta. O gado não é problema, o problema é tirar tudo para colocar o pasto. Nós fizemos a agrofloresta de um jeito que daqui a um tempo vamos criar o gado lá, porque plantamos inclusive a fruta que o gado gosta de comer”, disse.

Para Silvia, os sistemas agroflorestais são uma evolução dos orgânicos. “No orgânico há ainda quem plante como na cultura tradicional, uma só espécie, e o produto fica mais caro porque não se pode aplicar nada, então precisa de muita gente para fazer a limpeza. No agroflorestal, você só induz a natureza, então vai poder ter um preço mais competitivo”, disse, acrescentando que utiliza a própria poda das árvores e o húmus produzido no sítio como adubos para as plantas.

Agroecologia prioritária

O engenheiro agrônomo da Emater-DF, Rafael Lima de Medeiros, conta que o mercado de orgânicos está crescendo e a Emater já trabalha o programa de agroecologia como prioritário. “No Distrito Federal, a produção está crescendo, mas as propriedades orgânicas ainda são uma parcela muito pequena. Temos mais de cinco mil propriedades rurais e pouco mais de 150 são orgânicas. Mas o número de feiras orgânicas está crescendo e mais agricultores querem aderir a essa venda”, observou.

Medeiros conta ainda que a Emater trabalha também para atingir o agricultor convencional, para que ele passe a utilizar práticas mais sustentáveis, diminuindo o uso de agrotóxicos. “Eles começam a se adequar e, no futuro, isso pode servir de incentivo para que passem definitivamente para a produção orgânica”, completou.

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